O Ministério da Saúde confirmou nesta quinta-feira (9) a chegada ao Brasil de 25 mil unidades de fomepizol, antídoto específico para o tratamento de intoxicação por metanol. O carregamento, adquirido com urgência mediante dispensa de licitação, será distribuído estrategicamente para hospitais de referência em todas as unidades federativas, com prioridade para os estados que registraram casos no recente surto.
O fomepizol é considerado o antídoto de escolha para intoxicações por álcool metílico, atuando como inibidor competitivo da álcool desidrogenase, enzima responsável pela conversão do metanol em formaldeído – substância altamente tóxica que causa danos neurológicos irreversíveis e pode levar ao óbito. Até então, o Brasil dependia principalmente do etanol como alternativa terapêutica, método considerado menos eficaz.
A decisão de aquisição emergencial foi tomada após o país registrar 14 casos confirmados de intoxicação por metanol e duas mortes em São Paulo, Minas Gerais e Paraná. Os lotes contaminados foram relacionados ao consumo de bebidas artesanais adulteradas, conforme investigação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
O secretário de Vigilância em Saúde, Ethel Maciel, explicou que a distribuição seguirá critérios técnicos baseados em risco epidemiológico. “Estamos priorizando os estados com casos confirmados e as regiões metropolitanas com maior consumo de bebidas artesanais. Cada unidade da federação receberá estoque mínimo para emergências“, afirmou.
O tratamento com fomepizol deve ser iniciado nas primeiras 8 horas após a ingestão do metanol para ser efetivo. O protocolo do Ministério da Saúde estabelece dosagem de 15 mg/kg por via intravenosa, com repetição a cada 12 horas até a normalização dos níveis sanguíneos de metanol. Cada ampola de 1,5 ml custou em média US$ 800 na aquisição internacional.
Hospitais que receberão o antídoto:
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Instituto de Infectologia Emílio Ribas (SP)
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Hospital das Clínicas de Minas Gerais
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Hospital do Rocio (PR)
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Fundação de Medicina Tropical (AM)
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Hospital Universitário de Brasília
A Anvisa mantém alerta máximo para fiscalização de bebidas artesanais e já interditou 12 estabelecimentos suspeitos de comercializar produtos adulterados. A agência também está rastreando a origem do metanol utilizado nas falsificações, que pode ser proveniente de solventes industriis desviados ou produtos de limpeza pirateados.
O Conselho Federal de Química emitiu nota técnica alertando para os riscos do comércio irregular de metanol, substância que deve ser utilizada apenas para fins industriais e com controle rigoroso de venda. Estima-se que 40% do metanol consumido no país tenha origem ilegal.
Para a população em geral, o Ministério da Saúde reforça as recomendações:
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Compre bebidas apenas em estabelecimentos regulamentados
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Verifique o selo do Instituto Nacional de Metrologia
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Desconfie de preços excessivamente baixos
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Procure atendimento imediato em caso de mal-estar após consumo
A distribuição do fomepizol representa um marco na toxicologia clínica brasileira, equiparando o país aos padrões internacionais de tratamento para intoxicação por metanol. Estima-se que o antídoto possa reduzir em 80% a mortalidade por este tipo de envenenamento quando administrado precocemente.
