Órgão quer apurar se houve uso de informações privilegiadas para obter ganhos no mercado cambial antes do anúncio das tarifas de 50% sobre exportações brasileiras
A Advocacia-Geral da União (AGU) protocolou um pedido no Supremo Tribunal Federal (STF) para que sejam investigadas movimentações financeiras atípicas no mercado cambial brasileiro antes e depois do anúncio do tarifaço do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, contra o Brasil. A AGU quer saber se alguém se beneficiou ilegalmente da medida com base em informações privilegiadas.
O pedido foi encaminhado ao ministro Alexandre de Moraes na noite de sábado (19), dentro do inquérito que investiga o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP). O parlamentar é suspeito de atuar junto ao governo norte-americano em ações que teriam como objetivo retaliar autoridades brasileiras, incluindo ministros do STF, e interferir no andamento da ação penal sobre a tentativa de golpe de Estado em 2022.
A AGU afirma que a apuração deve levar em conta não apenas possíveis crimes já apontados pela Procuradoria-Geral da República, como obstrução da Justiça, mas também a possibilidade de enriquecimento ilícito com base nas mesmas condutas. Segundo o órgão, há indícios de que as medidas anunciadas por Trump possam ter sido combinadas previamente com atores políticos brasileiros, o que teria permitido operações vantajosas no câmbio.
O tarifaço, anunciado para entrar em vigor em 1º de agosto, impõe uma alíquota de 50% sobre exportações brasileiras para os EUA, gerando forte impacto nos mercados e repercussão imediata sobre o dólar.
No dia anterior ao pedido da AGU, Eduardo Bolsonaro foi alvo de uma nova operação da Polícia Federal e passou a usar tornozeleira eletrônica por ordem do ministro Moraes. Ele também foi proibido de sair de casa entre 19h e 6h. A decisão foi motivada por um possível risco de fuga, já que o deputado está licenciado do mandato e se mudou temporariamente para os Estados Unidos desde março, sob alegação de perseguição política. A licença termina neste domingo (20).
A investigação sobre eventuais lucros obtidos com o tarifaço pode abrir uma nova frente dentro do inquérito que já apura uma suposta articulação internacional contra o sistema democrático brasileiro e reforça as suspeitas de que interesses financeiros também estiveram por trás das manobras antidemocráticas.
