Marlon Couto Paula Júnior admite ter matado Nelson Carreira Filho durante reunião em Cravinhos (SP). Carta enviada à polícia detalha crime, ocultação de cadáver e medo de represálias.
O desaparecimento do empresário Nelson Francisco Carreira Filho, de 46 anos, desde o dia 16 de maio em Cravinhos (SP), ganhou novos contornos neste sábado (1º) após a Polícia Civil divulgar uma carta na qual o também empresário Marlon Couto Paula Júnior confessa o assassinato. Foragido desde a decretação de sua prisão, Marlon detalha o que, segundo ele, teria sido um crime motivado por extorsão e ameaça durante uma reunião de negócios.
A carta foi enviada à Polícia Civil por meio do advogado de defesa do suspeito, Nathan Castelo Branco, que confirmou a autenticidade da declaração. No documento, Marlon descreve que atirou em Nelson após uma discussão acalorada envolvendo uma suposta extorsão relacionada a fórmulas de suplementos alimentares desenvolvidas por sua empresa.
“Ele, muito alto e pesado, veio em minha direção, me ameaçando. Eu consegui pegar uma arma que mantinha na empresa e efetuei um disparo”, escreveu o empresário na carta.
Emboscada ou legítima defesa?
Nelson teria participado da reunião ao lado de Tadeu Almeida Silva, também investigado no caso. Tadeu foi preso dias depois, em 29 de maio, após se apresentar à polícia. Ele teria ajudado Marlon na tentativa de encobrir o crime. Segundo a confissão, Tadeu levou o carro de Nelson até São Paulo, onde o abandonou. Já Marlon afirma que levou o corpo até o município de Miguelópolis, a cerca de 200 km de Cravinhos, onde o jogou em um rio junto com a arma utilizada.
O delegado Heitor Moreira, responsável pela investigação, informou que as autoridades já trabalham com as informações prestadas por Marlon e que a carta pode auxiliar na localização do corpo e do armamento usado no homicídio.
Tentativa de enganar familiares
Após o crime, Marlon diz ter retornado para casa e comunicado à esposa que viajaria até São Paulo para “buscar um veículo” deixado por Tadeu. Segundo ele, a esposa não sabia do envolvimento dos dois no desaparecimento. O casal chegou a visitar os familiares de Nelson, consolando-os enquanto ele ainda era considerado desaparecido.
“Minha esposa, que não sabia o que tinha ocorrido, consolou os familiares. Eu e Tadeu também acabamos consolando a família”, escreveu.
O depoimento revela que Marlon orientou a esposa a mentir caso fosse questionada sobre a presença de Tadeu, afirmando que o cúmplice teria viajado com eles a São Paulo. Segundo ele, a ideia era evitar suspeitas sobre o envolvimento de Tadeu no desaparecimento de Nelson.
Medo de represálias e fuga
A carta também revela o motivo pelo qual Marlon, segundo afirma, decidiu não se entregar após a prisão de Tadeu. Ele alega ter começado a receber ameaças de morte, inclusive contra seus familiares.
“No dia 29 de maio, quatro pessoas encapuzadas tentaram invadir minha casa para me matar. Meus familiares viram as imagens nas câmeras de segurança. A polícia já foi informada e as imagens foram disponibilizadas”, relata.
Ele afirma que informou seu advogado sobre a localização do corpo e da arma e que pretende se entregar futuramente, “assim que se sentir seguro”.
Defesa confirma autoria
O advogado Nathan Castelo Branco afirmou que a decisão de escrever a carta partiu do próprio Marlon. “Diante da confissão, o caso parece estar esclarecido. Alguns pontos ainda serão confirmados, em especial as questões que ele informa a respeito do Nelson”, declarou.
A carta, no entanto, levanta novas perguntas sobre a real natureza da relação entre os empresários e o histórico de ameaças mútuas. A Polícia Civil agora concentra esforços na busca pelo corpo de Nelson, na checagem das alegações de Marlon e na tentativa de localizá-lo.
Enquanto isso, o caso continua a repercutir na região, levantando debates sobre segurança em negociações comerciais, o uso de violência para resolução de conflitos empresariais e os limites éticos das disputas por propriedade intelectual no setor de suplementos alimentares.
