Política

Especialistas Alertam que PEC da Blindagem Pode Impedir Investigação de Corrupção em Emendas Parlamentares

Proposta que amplia foro privilegiado para deputados estaduais pode criar "zona de imunidade" para desvios de recursos; Ministério Público prevê impacto em 2.500 processos em andamento

Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 45/2025, conhecida como “PEC da Blindagem”, pode criar um perigoso vácuo investigativo sobre o uso de emendas parlamentares por deputados estaduais e distritais, alertam especialistas em direito constitucional e combate à corrupção. A medida, aprovada pela Câmara nesta quarta-feira (24), amplia significativamente o foro por prerrogativa de função, transferindo para o Superior Tribunal de Justiça (STJ) a competência para processar e julgar casos envolvendo esses parlamentares.

Estima-se que aproximadamente 2.500 processos em tramitação nas justiças estaduais possam ser arquivados ou sofrer significativa morada caso a PEC seja promulgada. Entre esses casos, pelo menos 380 investigações referem-se especificamente a desvios de recursos de emendas parlamentares e contratos públicos suspeitos.

coordenador da Força-Tarefa de Combate à Corrupção, procurador regional Carlos Fernando dos Santos, alerta que a medida criará “ilhas de impunidade” nos estados. “O STJ não possui estrutura para absorver esse volume adicional de processos. Na prática, muitos casos serão engavetados por anos devido à sobrecarga do tribunal”, afirmou.

Dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) mostram que o STJ já acumula 18.000 processos pendentes e leva em média quatro anos para julgar casos criminais complexos. A adição de milhares de novos processos pode paralisar a máquina judicial em casos de corrupção estadual.

A PEC afetará principalmente investigações sobre:

  • Superfaturamento em obras financiadas por emendas

  • Desvio de recursos da saúde e educação

  • Fraudes em contratos com empresas fantasmas

  • Nepotismo em cargos comissionados

  • Formação de quadrilhas para desvio de verbas

Ministério Público Federal prepara uma ação direta de inconstitucionalidade caso a PEC seja aprovada no Senado. A argumentação baseia-se no § 5º do artigo 5º da Constituição, que veda a criação de tribunais de exceção e garante o acesso à justiça.

Organizações da sociedade civil como Transparência Internacional e Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral já anunciaram manifestações em frente ao Congresso Nacional. “É inaceitável criar privilégios enquanto o país sofre com hospitais sem recursos e escolas precárias”, declarou o presidente da Transparência Internacional no Brasil.

impacto financeiro também preocupa especialistas. Estimativas do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) indicam que a medida pode custar aos cofres públicos até R$ 150 milhões anuais com transferência de processos, custas judiciais e logística.

tramitação no Senado deve ser mais difícil, onde o governo conta com maioria mais estreita. Líderes partidários já sinalizaram que exigirão modificações no texto para apoiar a proposta. O prazo para votação é de 45 sessões, podendo se estender até dezembro.

Enquanto isso, tribunais de justiça estaduais aceleram o andamento de processos contra deputados, tentando concluir julgamentos antes da eventual promulgação da PEC. A corrida contra o tempo pode definir o futuro de centenas de investigações sobre corrupção nos estados.

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