Em 2005, o Jongo — expressão cultural afro-brasileira de origem bantu — foi reconhecido pelo Iphan como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil. Para marcar os 20 anos dessa conquista, comunidades tradicionais promoveram uma série de eventos que resgatam sua ancestralidade musical, poética e corporal, reforçando a importância dessa manifestação como resistência e identidade histórica.
Tradição viva e ancestralidade transmitida
Originário das zonas rurais do Vale do Paraíba e influenciado por saberes trazidos de Angola e Congo, o Jongo combina percussão, cantos (os “pontos”) e danças codificadas. As lideranças agraciadas nessa tradição reforçam que é uma herança transmitida oralmente — em rodas, gestualidades e instrumentos — e não se aprende em livros, mas na vivência e nos vínculos familiares.
Calendário de comemorações
A celebração começou no Dia Estadual do Jongo (26 de julho), data que acompanha a homenagem à ancestralidade feminina. Nesse dia, foi realizado o 4º Encontro de Jongos do Vale do Café, no Parque das Ruínas de Pinheiral, reunindo cerca de 400 jongueiros de pelo menos 18 comunidades. O evento solidificou o Jongo como elemento de memória, cultura viva e turismo étnico.
Em seguida, a programação prosseguiu entre 14 e 16 de agosto, durante a Semana do Patrimônio Histórico Nacional, com atividades no Centro do Rio:
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Roda de Jongo e shows de samba na Praça Tiradentes, transformada em um “quilombo simbólico”;
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Oficinas para o público com mestres da tradição;
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Seminário no Teatro Carlos Gomes para repensar políticas de preservação cultural;
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Exposição fotográfica com retratos e momentos históricos do Jongo;
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Lançamento do Museu do Jongo, plataforma digital com acervo de mais de 5 mil fotos e vídeos;
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Estreia de dois curtas: Jongo do Vale do Café e Mestres do Patrimônio Imaterial do Estado do Rio.
Projeto de futuro em construção
Além das celebrações, corpos culturais e órgãos públicos iniciaram o projeto de criação de um parque temático do Jongo, com museu, escola de dança, restaurante étnico e centro turístico. Previsto para 2027, o projeto já foi selecionado pelo programa federal de investimento PAC, com localização em Pinheiral — justamente no território onde nasceu essa tradição.
Essas duas décadas de reconhecimento refletem não apenas o caráter simbólico do Jongo, mas seu poder de articulação social, resistência e criação cultural. A festa sela também a esperança de que essa ancestralidade continue ecoando e transformando o Brasil.
