O jornalista ítalo-brasileiro Mino Carta, um verdadeiro gigante da imprensa nacional, faleceu nesta terça-feira (2), aos 91 anos, em São Paulo. Internado havia cerca de duas semanas na UTI do Hospital Sírio-Libanês, ele enfrentava problemas de saúde nos últimos meses.
Uma vida que moldou a imprensa brasileira
Filho de imigrantes italianos que vieram ao Brasil após a Segunda Guerra Mundial, Mino iniciou sua jornada no jornalismo ainda adolescente. Aos 16 anos, escreveu sobre futebol para jornais italianos — sua primeira experiência editorial.
Sua vocação emergiu com força nos anos 1960:
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Foi convidado por Victor Civita a dirigir Quatro Rodas, embora desconhecesse automóveis — e transformou o veículo em um sucesso editorial.
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Lançou e comandou diversas publicações marcantes: foi primeiro diretor da revista Veja (1968), criou a IstoÉ (1976) e idealizou o Jornal da Tarde (1966), destacando-se por inovação gráfica e linguística.
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Em 1994, fundou a CartaCapital, sua realização mais pessoal e duradoura, com foco no jornalismo crítico, independente e atento ao poder.
Sua trajetória foi marcada pela coragem editorial, resistência à censura na ditadura militar e compromisso com a verdade, mesmo sob pressão.
Estilo incomum e legado humano
Mino nunca abandonou sua velha máquina Olivetti, resistindo às tecnologias digitais e criticando o impacto das redes sociais no jornalismo: “A imprensa está sendo engolida pelas novas mídias”, chegou a afirmar. A escrita era afiada, irônica e impregnada de cultura — assim como seu terno tweed com cotoveleiras de couro, marca registrada de sua personalidade forte e elegante.
Escreveu romances como Castelo de Âmbar (2000), A Sombra do Silêncio (2003) e A Vida de Mat (2016), mesclando jornalismo, memória e ficção com uma sensibilidade reflexiva.
Repercussão e despedida
A notícia da morte gerou comoção. O presidente Lula decretou três dias de luto oficial, ressaltando a amizade e sua defesa obstinada da democracia. “Ele mostrou que imprensa livre e democracia andam de mãos dadas”, disse o presidente. Personalidades diversas também expressaram pesar, lembrando o jornalista como voz crítica, inspiradora e inesgotável.
Legado que transcende o papel
Mino Carta deixa um legado singular: transformou o jornalismo brasileiro com ousadia editorial, pioneirismo gráfico, verticalidade moral e independência de pensamento. Suas criações — revistas e jornais que moldaram o debate público — e seu estilo característico o definem como referência incontornável na imprensa do país.
