A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) emitiu um alerta urgente para o crescimento “assustador e silencioso” dos casos de automutilação e ideação suicida entre adolescentes no país. Dados compilados pela entidade a partir de atendimentos em prontos-socorros e consultórios mostram um aumento que varia de 30% a 80% nos últimos dois anos, dependendo da região, com picos especialmente entre jovens de 12 a 17 anos. Os pediatras apontam que o fenômeno é uma crise de saúde pública que exige ação imediata das famílias, escolas e poder público.
Segundo a SBP, os adolescentes de hoje enfrentam uma “tempestade perfeita” de fatores de risco. A pressão por imagem e desempenho nas redes sociais, o isolamento e as perdas durante a pandemia de COVID-19, e a exposição precoce a conteúdos violentos na internet são citados como combustíveis para o problema. “A automutilação muitas vezes não é uma tentativa de suicídio, mas um mecanismo de coping desesperado para aliviar uma dor emocional avassaladora que o jovem não sabe expressar de outra forma”, explicou a presidente do departamento de saúde mental da SBP.
O alerta ressalta, no entanto, que a busca por ajuda profissional ainda esbarra em grandes obstáculos. O acesso a psicólogos e psiquiatras pelo SUS é limitado, e o custo de planos de saúde para tratamentos de longo prazo é alto. A SBP orienta que pais e educadores fiquem atentos a sinais como o uso constante de mangas compridas (mesmo no calor), isolamento social repentino, alterações bruscas de humor e queda no rendimento escolar. A entidade defende a urgente implementação de programas de saúde mental nas escolas e a capacitação de pediatras para o acolhimento inicial desses casos, quebrando o ciclo de sofrimento silencioso.
