O Supremo Tribunal Federal (STF) deu início ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro e de sete aliados que integram o chamado “núcleo crucial” da trama golpista. A sessão inaugural, realizada nesta terça-feira (2), foi marcada por uma sequência clara de formalidade, sustentabilidade institucional e postura firme do relator.
Na parte da manhã, o ministro Alexandre de Moraes leu o relatório do caso. O documento apresentou todo o percurso do processo — das investigações até as alegações finais — e enfatizou a gravidade do julgamento. Moraes enfatizou que a impunidade não contribui para a paz democrática e reforçou que “a soberania não se negocia”.
Em seguida, o procurador-geral da República, Paulo Gonet, fez sustentação oral com a defesa da condenação. Ele argumentou que os réus protagonizaram uma ação coordenada, com personagens-chave, destinados a subverter o resultado legítimo das eleições de 2022 por meio da ilegalidade e do uso da força. Gonet lembrou que havia documentos, planos e ainda rascunhos que indicavam desde detenção de autoridades até possível ataques às instituições judiciais.
No turno da tarde, o tribunal começou a ouvir as defesas de quatro dos réus. Cezar Bitencourt, advogado de Mauro Cid — delator e tenente-coronel — defendeu que a delação premiada foi legítima e não gerou prejuízo ao instituto. O defensor de Alexandre Ramagem, por sua vez, alegou que seu cliente apenas anotava ideias de ideias do então presidente, sem ação direta na elaboração de estratégias golpistas.
A defesa do almirante Almir Garnier adotou abordagem inusitada, elogiando solenemente os ministros do STF antes de fazer sua linha de argumentação. Já a representação do ex-ministro Anderson Torres qualificou como “minuta do Google” um dos documentos-chave obtidos pela investigação — sugerindo que não se tratava de plano formalizado.
Embora Bolsonaro não tenha se apresentado — alegando problemas de saúde —, o ex-ministro da Defesa Paulo Sérgio Nogueira foi o único entre os réus a comparecer presencialmente, afirmando sua fé no sistema judicial.
O julgamento está suspenso e será retomado na manhã desta quarta-feira (3), com as sustentações dos defensores restantes, incluindo os do ex-presidente Jair Bolsonaro, de Augusto Heleno, Paulo Sérgio Nogueira e Walter Braga Netto. Ao final das sessões, os ministros emitirã seus votos e iniciarão o processo de decisão que pode levar à condenação ou absolvição, com penas que podem ultrapassar 30 anos de prisão.
