Análise laboratorial detecta até sete tipos de pesticidas em alimentos industrializados consumidos por crianças e adultos; Instituto cobra ação das autoridades e mais transparência das indústrias
Pães, biscoitos, cereais, salgadinhos, bebidas vegetais e até hambúrgueres à base de plantas — todos alimentos presentes no dia a dia de milhões de brasileiros — foram reprovados em um estudo que analisou resíduos de agrotóxicos em alimentos ultraprocessados. A pesquisa, publicada por um instituto de defesa do consumidor, analisou 27 produtos de 8 categorias. Mais da metade continha resíduos de pesticidas. Em alguns casos, até 7 substâncias diferentes foram detectadas em um único produto.
Todos os produtos reprovados e os agrotóxicos encontrados:
Biscoito água e sal
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Marilan: 6 agrotóxicos
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Vitarella: 5 agrotóxicos
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Triunfo: 5 agrotóxicos
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Zabet: 7 agrotóxicos
Biscoito recheado
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Trakinas: 6 agrotóxicos
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Oreo: 2 agrotóxicos
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Bono: 3 agrotóxicos
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Negresco: 7 agrotóxicos
Bisnaguinha
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Panco: 5 agrotóxicos
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Pullman: 5 agrotóxicos
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Wickbold: 8 agrotóxicos
Cereal matinal
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Nesfit Tradicional: 2 agrotóxicos
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Sucrilhos Kellogg’s: 2 agrotóxicos
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Nescau Cereal: 2 agrotóxicos
Macarrão instantâneo
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Nissin Lámen Galinha Caipira: 3 agrotóxicos
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Renata Lámen Carne: 3 agrotóxicos
Salgadinho de trigo
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Fofura Elma Chips: 3 agrotóxicos
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Torcida Sabor Pizza: 4 agrotóxicos
Hambúrguer plant-based
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Sadia Veg&Tal: 2 agrotóxicos
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Fazenda Futuro: 3 agrotóxicos
Empanado plant-based
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Seara Incrível: 3 agrotóxicos
Bebida vegetal
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Ades Soja Original: 3 agrotóxicos
Os pesticidas mais detectados:
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Glifosato – encontrado em 7 dos 12 produtos contaminados; potencialmente cancerígeno.
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Butóxido de piperonila – presente em diversos alimentos; pode potencializar toxicidade de outros agrotóxicos.
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Carbendazim – proibido na Europa; associado a danos reprodutivos e hormonais.
O que significa a reprovação?
A pesquisa classificou como “reprovado” todo alimento em que foram encontrados resíduos de agrotóxicos, mesmo que em quantidades pequenas. Isso porque:
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Não há limites legais para resíduos em alimentos ultraprocessados no Brasil.
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Os produtos são frequentemente consumidos por crianças, gestantes e populações vulneráveis.
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O consumo acumulado de pequenas doses pode causar efeitos crônicos como câncer, distúrbios hormonais e neurológicos, além de impactos reprodutivos e metabólicos.
Alimentos “saudáveis” também foram reprovados
A presença de resíduos em hambúrgueres vegetais, empanados à base de plantas e bebidas de soja desconstrói a ideia de que alimentos veganos ou light são automaticamente mais saudáveis. “Mesmo os produtos com apelo de saúde estão expostos à mesma lógica de produção intensiva com uso de pesticidas”, alerta o relatório.
O que o estudo recomenda?
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Criação urgente de limites para resíduos em ultraprocessados
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Rotulagem mais clara e informativa
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Fiscalização mais rígida na cadeia de produção
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Incentivo à agricultura agroecológica e produção orgânica
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Redução do consumo de ultraprocessados e priorização de alimentos in natura
O que o consumidor pode fazer?
A pesquisa conclui que, enquanto não houver regulamentação e responsabilidade das indústrias, o consumidor é quem corre os riscos. Por isso, recomenda-se:
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Preferir alimentos frescos e minimamente processados
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Comprar de feiras orgânicas, pequenos produtores ou grupos agroecológicos
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Evitar produtos com muitos ingredientes artificiais e pouco valor nutricional
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Exigir transparência das marcas sobre os ingredientes usados
Conclusão:
A contaminação por agrotóxicos em produtos industrializados vendidos livremente nos mercados escancara a fragilidade da regulação brasileira sobre alimentos processados. Se nem o biscoito maisena escapa do veneno, a pergunta que fica é: o que mais estamos comendo sem saber?
